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6 de setembro de 2010

Canibais – Paixão e Morte na Rua do Arvoredo

Por Jardel Nunes

Porto Alegre, meados de 1860. Uma mulher, alta, magra, de andar sensual, longos e sedosos cabelos loiros e grandes olhos verdes. Catarina. Leva para casa um homem, sortudo, que logo terá seus desejos saciados, sexualmente e gastronomicamente. Logo após os banquetes, o pobre homem é tragado por um alçapão abaixo de sua cadeira e lhe enfiam um machado entre os olhos, seguido pela degola do grande facão de José Ramos, açougueiro famoso, cônjuge da bela Catarina.

Um capítulo. Mais precisamente, as 13 primeiras páginas é tudo o que David Coimbra precisa para fisgar a atenção e aguçar a curiosidade do leitor que abre “Canibais”. Nota-se que Coimbra não está preocupado em criar uma história de gato e rato, uma grande investigação para descobrir quem é o responsável pelos estranhos desaparecimentos que ocorreram na ainda pequena Porto Alegre.

Misturando ficção com realidade (sim, realmente existiram os crimes da rua do arvoredo, assim como Catarina e José Ramos), o autor se preocupa mais em nos mostrar a vida da cidade e seus habitantes naquela época. Também os motivos para que aquele casal, moradores da sombria casa 27 da rua do arvoredo cometessem crimes tão brutais, degenerados. O título do livro deixa implícito o que o açougueiro fazia com os restos mortais de suas vítimas: linguiça. A linguiça mais famosa e requisitada da capital gaúcha.

Canibais é um “noir dos pampas”... existe todo aquele tom misterioso, a “mulher fatal” (Coimbra é expert em descrever mulheres) e todos os jogos de capítulo, para nos deixar mais curioso para o que vem a seguir. Mas também é uma recriação historicamente correta da antiga Porto Alegre, com suas ruas, bordéis, estabelecimentos comerciais e brigas étnicas.

A história de “Canibais” já é por si só interessante, mas o fato é que David Coimbra é um narrador exímio. Apresenta cada um de seus personagens, como o sapateiro Walter, o padeiro Antunes, o anspeçada Brasiliano Cavalo e seu fiel escudeiro Januário com pequenos detalhes e alguns toques cômicos que fizeram o nome de Coimbra famoso escrevendo suas crônicas esportivas para o Zero Hora (o maior jornal do Rio Grande do Sul. Coimbra é editor do caderno de esportes).

David Coimbra já tinha alguns livros de contos na bagagem e a co-autoria do livro “A História dos Grenais”. Mas Canibais, é seu primeiro e muito bem vindo romance... Só para constar, o livro lançado pela Editora L&PM tem 264 páginas e é facilmente achado (pelo menos aqui no sul) nas livrarias e grandes mercados. O preço está na média dos R$15. Recomendado para aqueles que gostam de uma boa narrativa de suspense com toques históricos.


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